Nem o maior entusiasta e ufanista dentre todos os torcedores qataris poderia prever isso. Digo mais, nem ele teria 100% de fé que o Qatar seria um dos dois finalistas desse domingo. Uma seleção montada, sem nenhuma tradição, feita de refugos de outros países (excessão feita ao grande goleiro Saric). Esse é o resumo do time que hoje se encontra às vésperas de disputar o título mais importante do Handebol mundial.
Muitos acham que o Qatar chegou longe demais. Que já deu o que tinha que dar. "Vai ser um passeio da França" "Eles não vão ver nem a cor da bola". Pois é, cada um pensa o que quiser. Porém os caras estão lá e vão fazer de tudo para sair de quadra com o caneco. E digo mais: se para cada vitória era oferecido US$40.000,00, quanto vale esse título para os donos do petróleo?
Dizem também que o Qatar tem contado muito com o 8º e 9º jogadores em quadra. Haja visto que a arbitragem tem sido um tanto tendenciosa para os donos da casa. Porém, preferimos ser mais românticos, mais puristas e acreditar que são 7x7.
Dadas essa circunstâncias, vamos aos fatos:
A França sente muito a ausência de Luc Abalo na ponta direita. Porte tem jogado até que bem (sendo bem bonzinho) Porém, está anos luz de ser o melhor ponta direita do planeta. Narcise não vem apresentando a mesma regularidade de outrora. Acontece que essa "falta" de qualidade no ataque é compensada pela defesa. Sinceramente a melhor defesa que já vimos jogar. Compacta, forte, calma, entrosada e que conta com um último recurso que, francamente, vem fazendo a diferença em todos os jogos: Omeyer. Repare bem: quando a defesa dá espaço para chutes de fora, Omeyer faz a festa. Com isso, a França força o oponente a tentar penetrações. Nessa hora, encontram verdadeiras pedreiras à frente, que os forçam a cometem erros, andar, perder a bola. Resumindo, atacar contra a França é um verdadeiro teste de força, não só física mas principalmente psicológica.
Do outro lado temos uma equipe não tão regular. Fez um jogo de estreia apertado contra o Brasil, jogou pau com Espanha, e ganhou por pequena diferença todos os outros jogos. Um time raçudo, forte fisicamente, repleto de jogadores experientes, e que assim como a França, contam com um excepcional goleiro. Saric já foi MVP de 3 partidas e foi fundamental para que os Qataris chegassem a essa final. Alto, rápido, com uma leitura primorosa, o goleiro mostra a cada defesa que não está ali apenas para ganhar dinheiro.
Se analisarmos os conjuntos, Saric é muito mais decisivo para o Qatar do que Omeyer para a França. Porém nas duas últimas decisões que disputou por seu clube, não foi bem. Certamente isso pesa. Resta saber o que ele fará com esse sentimento: se é esmagado pelo peso de mais uma final ou se isso o impulsiona na busca pela redenção.
Resta saber como Valero Rivera movimentará suas peças nesse xadrez de técnicos. Caso marque forte o lado esquerdo e "deixe" o direito jogar, aí meu amigo, o caldo engrossa, e não é pouco.
Quem joga handebol há mais tempo sabe que não existe muita lógica nesse esporte, que as estatísticas enganam, e que a palavra final, tem um peso muito grande principalmente para os mais novos. É quando o mocinho perde do bandido. É quando o coração e a raça falam mais alto do que o nome que cada atleta carrega nas costas. Nossa única certeza é que será um jogão. E que vença o melhor handebol!