Muitos
criticaram a eficiência dos arremessadores e dos goleiros brasileiros no
Mundial do Catar. Outros chamaram de ‘Mundial dos Goleiros’! Por isso proponho
esta discussão, sobre este duelo.
Sim, é um duelo.
O primeiro e recorrente problema que vejo no olhar/concepção de quem trata do
jogo e desta ação, que é fundamental para o resultado final das partidas, é
ignorar – ou esquecer – que se trata de um ato tático!
Todo duelo é
estratégico, e, portanto, tático.
Arremessar não é
praticar tiro ao alvo. A precisão é um componente importante sim. Mas
secundário.
Força, ou
melhor, potência, entendida como força rápida, é importante sim. Mas de novo,
secundário.
Mas e as duas
coisas juntas? Um arremesso potente e preciso, este sim é indefensável! Claro
que não.
O ato do
arremesso difere, e muito, do arremesso do basquete. Neste, não há quem possa
interferir se a trajetória da bola já estiver na sua fase descendente, a
caminho do alvo. Por regra. Mas também porque é uma tarefa de precisão - de
bola ao cesto.
No handebol
existe o goleiro. Assim como, mas de modo muito diferente, do que no futebol. O
Goleiro é um ser humano inteligente. Alguns mais, outros menos.
Um duelo
pressupõe levar em conta que existe o outro lado, a outra pessoa. ‘Jogar’ a
bola forte num lugar do gol, sem nem sequer observar o goleiro, é uma coisa
mais recorrente do que deveria, infelizmente.
Ai esta o duelo
tático! Quem sabe e domina as ações - e mais, os tempos das ações - do outro?
Por isto há um
trabalho prévio e posterior ao ato “técnico” de arremessar. É o ato tático de
duelar, e ser capaz de vencer este duelo!
Manolo Laguna –
treinador espanhol - já dizia: a técnica ajuda a ação tática, se presta a ela!
O domínio da técnica te dá possibilidades de por seus planos estratégicos e
táticos em prática, de forma a atingir seus objetivos e disfarçar suas
intensões!
Por que neste
duelo de Goleiro e arremessador, saber das informações importantes e corretas
do adversário é meio caminho para a antecipação.
E creio que é
preciso ver o duelo também com o olhar invertido: e o Goleiro?
Também foi
treinado a fazer coreografia, quase um balé embaixo da trave. O X, o Y, a
defesa embaixo em esquadro, etc. Mas isto permite ações de ir atrás da bola que
está chegando ao gol. Não permite antecipar, muito menos pensar a lógica que
rege as escolhas dos arremessadores nos mais distintos momentos de um jogo.
Muitos jovens
goleiros fazem o X ou chutam uma perna na hora de duelar com o atacante sem
levar em conta as informações relevantes. Só porque lhe deu vontade. Ou pior:
porque automatizou um comportamento que em milissegundos virou mais forte do
que sua intenção - seu objetivo! O gesto técnico domina o goleiro, e não o
contrário!
Poderia me
dedicar mais a explicar o que estou criticando aqui, que envolve desde nosso
jeito de olhar os jogos e os duelos 1x goleiro (outro jeito de chamar o tal
duelo arremessador x goleiro) até nosso jeito de praticar, treinar e formar
jogadores de handebol.
De novo: Muitos
criticaram a eficiência dos arremessadores e dos goleiros brasileiros no
Mundial do Catar. Outros chamaram de ‘Mundial dos Goleiros’! Por isso proponho
esta discussão. Com certeza podemos repensar este ato fundamental (e não
fundamento) do handebol. Podemos - e devemos melhorar - neste quesito 1x
goleiro e por sua vez, o goleiro x arremessador. Mas para isso creio que
devemos repensar nosso olhar.
ALGUMAS NOTAS
ESTATÍSTICAS DO MUNDIAL MASCULINO DO CATAR 2015:
-Eficiência dos
arremessos – O Brasil fica em 15º lugar, com 56%. A França teve 65%, a Espanha
67%, Alemanha e Croácia, 66%, Dinamarca 64%, Eslovênia 66%... e a Argentina
57%.
-O Brasil foi o
time que mais arremessos fez, em média, por jogo. 51 por jogo! E o segundo time
que mais fez contra-ataques, atrás apenas da Áustria.
-Eficiência dos
Goleiros: Brasil 26%. Alemanha 37%, Polônia 31%, Frnaça 35%, Catar 32%,
Argentina 25%...
DIOGO CASTRO
Março/2015
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